Que deve fazer um poeta quando não tem nada a fazer?
Primeiro, deve esquecer a poesia. Um carro não é poesia,
Às vezes nem o céu, nem o amor e nem Deus são poesia.
Deve olhar. Olhar para tudo. Encontrar a sua imagem
5 Num nada que sempre toma formas diferentes
Mas fica nada. Correr pelas ruas do infinito
A olhar para pés que o acompanham.
Não esqueça o poeta que, às vezes, as imagens
Tomam forma de pensamentos ou de acções;
10 Elaborá-las, fazê-las em não pensando, em não agindo.
Até ficarem sem forma. Até se encherem de nada;
Até chegarem a um nada mais elevado do nada,
Ao nada onde a liberdade
Voa sem cuidar mais em nada.
15 Nestes momentos, o poeta pode fazer tudo,
E, às vezes, opta por o fazer.
Mas o poeta verdadeiro opta por não fazer nada,
Opta por ficarem desconhecidas as suas palavras.
Houve poetas que cantaram as vozes do silêncio,
20 E o silêncio, às vezes, faz um barulho terrível;
Houve poetas que, em cantando o não e o nada
Subiram a montes onde Deus parecia uma formiga sem cabeça.
Che deve fare un poeta quando non ha nulla da fare?
Primo, deve scordare la poesia. Un'auto non è poesia,
A volte nemmeno il cielo, nemmeno l'amore e nemmeno Dio sono poesia.
Deve guardare. Guardare tutto. Trovare la sua immagine
5 Nel nulla che sempre assume forme differenti
Ma rimane nulla. Correre per le strade dell'infinito
A guardare i piedi che lo accompagnano.
Non scordi il poeta che, a volte, le immagini
Prendono forma di pensieri o di azioni;
10 Elaborarle, farle senza pensare, senza agire.
Finché non restino senza forma. Finché non si riempino di nulla;
Finché non arrivino a un nulla più elevato del nulla,
Al nulla dove la libertà
Vola senza curarsi più di nulla.
15 In questi momenti il poeta può fare tutto,
E, a volte, sceglie di farlo;
Ma il poeta vero sceglie di non fare nulla,
Sceglie che le sue parole restino sconosciute.
Ci furono poeti che cantarono le voci del silenzio
20 E il silenzio, a volte, fa un baccano terribile;
Ci furono poeti che, cantando il no e il nulla
Salirono su monti dove Dio sembrava una formica senza testa.
["cosa" (o "bischerata" che dir si voglia) tratta da Poemas em português, 1993-1994]
|