Não fales em coisas que não conheces
Molhando a caneta na tinta do incompreensível.
Não arranques um fio de relva, não to tortures nas mãos
Sem estudares as formas que um fio de relva arrancado
5 Pode tomar nas tuas mãos ou nas de outrem.
Não observes uma formiga levando uma semente
Sem perceberes o caminho da formiga levando a semente na relva
Porque o fio que arrancaste é uma modificação do caminho
E, por isso, da história de um momento da vida da formiga,
10 E a história é feita também de formigas e de sementes,
E os fios arrancados são também os nossos sonhos
E os nossos medos, que seriam os mesmos sonhos
E os mesmos medos da formiga se os pudesse ter.
Não fales em coisas que não percebes
15 Molhando a caneta na tinta do incompreensível.
Um dia numa ilha, sozinho, estava a chover.
Tinha uma gata cega de um olho, e os meus pensamentos
Incoerentes, a música dos gestos definitivos
Que são definitivos porque tinha vinte e dois anos.
20 A chuva confudia-se com as salpicadelas de espuma do mar
E não havia lugar para nenhum. Eu não sabia
Se eu era a ilha, ou se a ilha estava em mim,
Em todo o caso, só havia eu e a ilha.
Eu não desejava nada. Foi lá que eu pensei
25  Pela primeira vez num fio de relva torturado nas mãos,
Numa formiga levando uma semente, nos meus sonhos
E na maneira de exprimi-los nesta língua de azul assíncrono.
Non parlare di cose che non conosci
Intingendo la penna nell'inchiostro dell'incomprensibile.
Non strappare un filo d'erba, non te lo torturare nelle mani
Senza studiare le forme che un filo d'erba strappato
5 Può assumere nelle tue mani o in quelle di altri.
Non osservare una formica che porta un seme
Senza capire il cammino della formica che porta il seme nell'erba
Perché il filo che hai strappato è una modifica del cammino
E, per questo, della storia di un momento della vita della formica,
10 E la storia è fatta anche di formiche e di semi,
E i fili strappati sono anche i nostri sogni
E le nostre paure, che sarebbero gli stessi sogni
E le stesse paure della formica se le potesse avere.
Non parlare di cose che non conosci
15 Intingendo la penna nell'inchiostro dell'incomprensibile.
Un giorno su un'isola, solo, stava piovendo.
Avevo una gatta cieca da un occhio, e i miei pensieri
Incoerenti, la musica dei gesti definitivi
Che sono definitivi perché avevo ventidue anni.
20 La pioggia si confondeva con gli spruzzi di spuma del mare
E non c'era posto per nessuno. Non sapevo
Se io fossi l'isola, o se l'isola stesse in me,
Ad ogni modo, c'eravamo solo io e l'isola.
Non volevo nulla. Fu là che pensai
25 Per la prima volta a un filo d'erba torturato nelle mani,
A una formica che porta un seme, ai miei sogni
E al modo di esprimerli in questa lingua d'azzurro asincrono.
["cosa" (o "bischerata" che dir si voglia) tratta da Poemas em português, 1993-1994]
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