• 
          Pensei, um dia,
          Na cor do atrevimento, e pensei em ti
          Hoje estou
          A contemplar silêncios à beira-mar
      5  Pensamentos,
          Flores nas janelas, o azul do céu
          Passa o sol,
          Num comboio cheio de pessoas
          Hoje estou
    10  A olhar para gestos que não sei
          Os minutos
          Levam-me às vezes para trás
          E o valor
          Das palavras vai embora até
    15  Esmagar
          Tudo nesta vívida ilusão
          Alguém deixa
          O seu diário e desce na estação
          Do seu nada,
    20  Noutros nadas, noutras ilusões
          Eu fiquei
          No sol, no silêncio e pareceu
          Que um senhor
          Me desse a sua mão para tomar
    25  a sua visa,
          Falou noutra língua e não entendei
          O sentido
          Do seu gesto e desapareceu
          Mas a brisa
    30  Do silêncio ainda estava em mim,
          E voou
          Para nadas que nunca encontrarei.
    
    
    
          Pensai, un giorno
          Al colore dell'ardimento, e pensai a te
          Oggi sto
          Contemplando silenzi in riva al mare
      5  Pensieri,
          Fiori alle finestre, il blu del cielo
          Passa il sole,
          In un treno pieno di persone
          Oggi sto
    10  Guardando gesti che non so
          I minuti
          A volte mi portano all'indietro
          E il valore
          Delle parole se ne va fino
    15  A schiacciare
          Tutto questo in una vivida illusione
          Qualcuno lascia
          Il suo giornale e esce alla stazione
          Del suo nulla,
    20  In altri nulla, in altre illusioni
          Io rimasi
          Nel sole, nel silenzio e parve
          Che un signore
          Mi desse la sua mano per prendere
    25  La sua vita,
          Parlò in un'altra lingua e non capii
          Il senso
          Del suo gesto, e scomparve
          Ma la brezza
    30  Del silenzio ancora era in me,
          E volò
          Verso nulla che non troverò mai.
    
    
    ["cosa" (o "bischerata" che dir si voglia) tratta da Poemas em português, 1993-1994]